Escrevendo sobre um novo site e um novo instrumento na Torre ATTO

Texto ‘Cloud radar: Measuring from a ‘hole’ in the forest’ (Radar de nuvens: Medindo de um ‘buraco’ na floresta) no ATTO HIGH-TECH

Site Campina com instrumentos instalados em agosto de 2020.

Tive a incrível oportunidade de escrever (de forma bem informal) sobre a Campina e o radar de nuvens MIRA-35C instalado lá neste ano no blog ATTO HIGH-TECH da página do projeto. Sou atualmente a gestora de dados (data mentor) desse radar.

Leia o texto original (em inglês) aqui. Abaixo, traduzi o texto para português.

“Olá! Meu nome é Camila Lopes. Sou uma meteorologista trabalhando no Projeto ATTO desde 2020. Esse trabalho é parte do meu doutorado na Universidade de São Paulo, Brasil, sob orientação da Profª Rachel Albrecht. Estou envolvida em um projeto qu estuda o ciclo de vida de nuvens e aerossóis na Amazônia medindo suas propriedades em diversos locais. Um deles inclui a Torre ATTO e um novo site montado a cerca de 4 km da torre. Esse site se chama “Campina”. O solo arenoso e as árvores baixas comparadas com seu entorno deram o nome ao site. Visto de cima, essa região é como um buraco de solo nu no meio de uma floresta densa e infinita. Isso também faz com que seja uma região ideal para a coleta de medidas meteorológicas olhando acima das árvores.

Campina com solos arenonos e pequenas árvores e arbustos.

Desde o final de 2019, dois containers e vários instrumentos foram instalados em Campina. Isso inclui três radares meteorológicos com diferentes propósitos: um para nuvens, um para ventos e um para chuva. Esses radares emitem feixes de sinal para a atmosfera acima deles em uma dada frequência. Partículas na atmosfera sensíveis à essa frequência espalham uma fração desse feixe de volta, que o radar recebe e mede. Isso permite que a gente estime as propriedades dessas partículas. É importante instalar um radar em um espaço aberto como a Campina para evitar o bloqueio dos feixes por árvores e outras interferências.

Estes são os instrumentos instalados no site Campina. Na esquerda está o radar de nuvens MIRA-35C.

Eu sou responsável pela operação do radar de nuvens, chamado MIRA-35C. A frequência desse radar está na Banda Ka (35GHz, mais especificamente), uma banda bem conhecida na comunidade de radar para detectar gotículas de nuvens e gelo. Radares nessa banda também podem ser encontrados a bordo de um satélite orbitando nosso planeta, em um avião de pesquisa ou na superfície, associado a experimentos de campo em todo o mundo. Uma característica curiosa dessa banda é que ela é também muito sensível a insetos. Enquanto é necessário filtrar esses dados para medidas de nuvens, os dados brutos podem ser bem úteis para a meteorologia da camada limite, já que esses insetos voam apenas dentro dessa camada mais baixa da atmosfera. Essa é a primeira vez que esse tipo de radar de nuvens é instalado no meio de uma floresta tropical. Assim, estamos bem animados para ver o que iremos encontrar e comparar com outras regiões.

Visão mais próxima do radar MIRA com a antena e o pequeno container. Dentro dos tubos amarelos há diversos cabos que conectam o radar ao container de pesquisa e à fonte de energia.

O instrumento em si é basicamente uma antena montada acima de um pequeno container com um ar-condicionado e um sistema com um computador que recebe, pré-processa e converte o sinal bruto para variáveis físicas. Essas variáveis incluem refletividade (equivalente ao número de partículas em um dado volume), velocidade Doppler (para saber se as partículas estão indo para baixo ou para cima) e outras que ajudam a identificar o que está sendo medido. Esse computador é conectado a um notebook dentro do container de pesquisa, de onde nós controlamos o radar. Nosso time instalou o MIRA durante minha primeira visita ao site em março de 2020, logo antes da pandemia atingir a região. Ele está funcionando desde então graças a um pequeno time que continuou trabalhando no ATTO durante a pandemia.

Visão dentro do container com um ar-condicionado extremamente necessário :), ferramentas e vários notebooks que controlam todos os instrumentos no site. Na direita, estou eu muito concentrada coletando informações sobre as configurações depois da instalação.

Eu sou nascida e criada na selva de pedra de São Paulo e uma pessoa 100% de cidade grande. Assim, para mim foi uma grande experiência passar dez dias no meio da floresta ouvindo pássados e insetos em vez de carros e sirenes. Apesar do calor e da umidade me fazendo suar eternamente e acabando com o meu cabelo, eu na verdade gostei da experiência. Provavelmente porque eu não tive a “experiência completa”. Não encontrei cobras ou aranhas gigantes, não passei o dia inteiro longe de um ar-condicionado e não subi a torre de 325 m. Tenho tanto medo de altura que ir até a base da torre e olhar para cima foi uma aventura suficiente para mim. Mas, quem sabe… Talvez na próxima vez eu encontre a coragem para subir. 😄”

Arco-íris duplo logo acima do container de armazenamento no único dia ‘chuvoso’ (na verdade foi só um pouco de chuvisco) quando estávamos trabalhando no site.

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